Uma pedalADA pela América - Argentina - De Buenos Aires a Viedma
“Una ruta aburrida pero personas muy especiales.”
Em Buenos Aires
fiquei por 11 dias, as vezes me pergunto o que tanto fiz nestes
dias...sim, conheci alguns lugares, mas creio que fiquei tantos dias
pelas pessoas que econtrei.
Fiquei num hostel
bem legal, com gente muito boa...uruguaios, argentinos, colombianos,
peruanos, brasileiros, poloneses, franceses...gente de toda parte
numa harmonia bem legal. Teve dia que simplesmente fiquei sem fazer
nada, só de papo, conversando, comendo e bebendo, e sempre, com
boa música, sempre tinha alguém que tocava algo e daí já saia
música pra uma noite inteira de bate papo.
Em Buenos Aires
também conheci gente que não tava no hostel, amigos de amigos da
estrada e foram lindas pessoas que compartilharam comigo lindos
momentos de sua vida na capital. A Maria e o Dário foram alguns
deles. Eu gosto muito disso também, de poder sentir como as pessoas
vivem em suas cidades, fazer coisas de sua rotina, ir a lugares que
eles frequentam e não lugares turísticos apenas.
Há aproveitei fui ao cinema também... 8 pesos (menos que R$ 4,00). Não
pude acreditar que só descobri isso exatamente no dia anterior a
minha partida.
Bom, quando
completou uma semana que estava em Buenos Aires sempre falava, amanhã
cedinho eu vou...mas aí, por algum motivo, tinha alguma coisa que me
fazia ficar mais um dia...e assim foi por uns três dias...quando na
segunda eu disse, amanhã eu vou embora, eles não acreditaram, mas,
era hora de partir, o frio começava e não queria chegar ao sul
muito no inverno.
Saí de Buenos Aires
no dia 17-03-2014, o Matias, amigo que fiz no hostel, me ajudou a
definir uma rota de saída da cidade mais tranquila, sem passar por
lugares muito perigosos.
Mas foi engraçado,
na noite anterior a saída foi como se eu estivesse começando a
viagem, não conseguia dormir, foi uma noite de pouco sono, acordei
as cinco da manhã, noite ainda, organizei as coisas, tomei café e
as seis estava saindo do hostel.
E que bom que fiz
isso, pedalei por umas duas horas, 40km e ainda na cidade, só depois
começou uma estrada mesmo. Mas ainda era cedo e teria 120km pela
frente. Sim, seria um percusso longo neste dia, mas preferi assim.
Foi um dia quente, muito muito sol. Perdi as contas de quantos litros
de água tomei e joguei na cabeça por tanto calor que fazia.
Neste dia completei
2000km de estrada, em quase dois meses de viagem, pode parecer pouco,
como até um ciclista que conheci disse, mas também a viagem deve
ser pra ser desfrutada, não quero simplesmente passar pelos lugares,
quero conhecer pessoas e desfrutar alguns dias nos lugares que me
sentir bem e que assim quiser.
Bom, segui...tinha
estrada pela frente, e o sol castigava. Fim do dia , como que umas
seis da tarde, finalmente cheguei a Coronel Belgrano, depois de
160km, foi o máximo que pedalei em toda viagem até hoje.
Fui buscar abrigo,
primeiro um camping...140 pesos, um camping municipal e cobrando essa
fortuna...fui pra cidade, hotel tudo caro também, acima de 200
pesos. Foi então que me lembrei dos bombeiros, perguntei onde era e
fui com a cara e a coragem pedir abrigo.
Cheguei, disse que
estava viajando e que precisava de um lugar seguro pra passar a
noite, poderia ser um lugar pra colocar a barraca que estaria feliz.
Bom, consultaram aos superiores e em pouco tempo disseram que eu
podia ficar. Ducha quente, lugar pra botar o colchão. Uau...tudo que
precisava.
Essa foi a primeira
de muitas experiências que venho tendo com os bombeiros, eles
lindamente tem me acolhido. Oferecendo muitas vezes muito mais que eu
preciso. Sempre são muito atenciosos.
No dia seguinte, não
tive tanta pressa, teria um caminho relativamente curto pela frente
.. algo em torno de 70km, porém uma parte em terra. Pelo menos isso
foi o que eu pensei.
Antes de sair tomei
aquele café, fui ao mercado comprar frutas e segui. Primeiros 20km
de asfalto, uma maravilha....os outros teoricamente 50, de terra, que
na verdade era uma terra solta. Um misto de terra e areia, uma coisa
linda pra pedalar (sóquenão).
Mas até que foi
tranquilo, só os últimos 10km que estavam impedaláveis, se assim
se pode dizer, e então eu fui pra outro caminho, mais longo, mas
pelo asfalto.
Neste dia tinha uma
casa pra ficar, na cidade chamada Las Flores, o casal Marcos e
Carolina me receberam lindamente. E, nesta casa também conheci o
Mateo. Outro cicloturista. Mateo estava no fim de sua viagem de volta
ao mundo...foram somente 5 anos viajando...e foi ótimo pra trocar
muita experiência, ele sempre sabia de tudo...rss...
A noite tivemos como
presente um lindo jantar, o famoso assado argentino, nosso churrasco.
Bom, no dia seguinte, não sei se tomei a decisão correta. Mudei a
rota que tinha inicialmente planejado e segui direto até uma cidade
chamada Azul, pela ruta 3, porque disseram que havia acostamento
nesta rodovia.
Ledo engano, foram
125km por uma ruta extremamente movimentada com muitos carros e
também caminhões, e pra piorar, em determinado momento, o
acostamento acabou e ficou impraticável ficar por alí. Busquei um
caminho alternativo de terra e tentei seguir por ele até a cidade.
Esse dia cheguei
cansada. Acho que o stress do trânsito cansa muito mais do que
pedalar muitos km. Procurei os bombeiros de novo, mas aqui, como não
eram voluntários não pude ficar. Fui então em um camping
municipal, que era muito bom e fiquei ali mesmo.
Essa cidade, Azul, é
muito bonita, foi uma pena não ficar um dia aí pra desfrutar, mas
como tinha ficado muitos dias em Buenos Aires, era hora de tentar
avançar na estrada.
Sempre que fico em
camping tenho muita dificuldade pra sair muito cedo. Ter que
desarmar barraca, arrumar coisas, tomar café e isso tudo sempre toma
muito tempo. E em razão disso, saí da cidade as nove horas da
manhã...Esse pode ter sido um dos problemas do dia.
Os famosos
ventos da argentina...
Neste dia, até as
13hs havia percorrido 60km...tinha mais uns 40 pela frente, até aí
tudo bem, não fosse o vento contra que havia começado e que a tarde
se tornou muito forte. Sim, muito forte mesmo.
De duas da tarde até
as seis eu havia pedalado vinte e poucos quilômetros. Em quatro
horas, pouco mais que vinte quilômetros. Eu brigava em cima da bike
tentando avançar e nada...via a minha frente a poeira branca, que
por muitas vezes tampava toda ruta.
E eu lá tentando
não me deixar vencer pelo cansaço, pelo desespero (não podia
pensar que a situação podia piorar e que nestas estradas não
existe simplesmente nada pra se abrigar. NADA. Nenhuma casa, posto de
gasolina ou coisa parecida). Foi um duelo físico e psicológico.
Segui até onde
deu...até uma hora que a bike (e eu) por pouco não caiu na pista.
Sim, o vento quase derrubou a gente. Neste momento, eu pensei e
cheguei a conclusão que era mais perigoso seguir. Tinha que parar. A
pista sem acostamento asfaltado, se eu caísse era um risco um carro
passar por cima.
Neste momento tive
sim um pouco de medo, tive sim vontade de chorar, e creio que o fiz,
me senti sozinha, no meio da imensidão argentina, em frente a uma
possível tempestade de vento, que como todos sabem por aqui, podem
ser tão violentos que chegam a derrubar carros.
Eu realmente nunca
havia passado por algo igual. Tentei buscar um lugar onde pudesse ao
menos me proteger um pouco do vento e dos carros. Fui então pro lado
oposto da pista e desci um pouco o acostamento, que ficava um pouco
abaixo do nível da estrada, e me sentei. Eu e a Branquinha. Quase
seis da tarde, quase noite e faltando ainda mais de 20km pra chegar
na próxima cidade (porque antes disse não havia nada).
Sentei, chorei,
respirei fundo e pensei que tudo de alguma forma ia se resolver. E
que bom...os anjos gostam de mim e estão sempre por perto...não
fiquei cinco minutos sentada e dois carros parraram, preocupados,
pensando que eu havia caído da bicicleta. Perguntaram se eu estava
bem e pra onde iria.
Um deles me ofereceu
carona, eu, lógico, não pensei duas vezes. Colocamos a bike no
carro, os alforjes e seguimos por uns 15 km de carro. Ele me deixou
na entrada da cidade, estava ótimo, dali até a cidade seriam
somente uns 7km.
No caminho ele me
perguntou porque eu tava fazendo aquilo...rss.. viajando sozinha, de
bicicleta e tal. Senti que se ele fosse meu pai, jamais deixaria eu
fazer o que estou fazendo. Sei bem que ele pensou que sou uma
louca...rss...mas entendo, é uma realidade que pra muita gente é
algo impensável e muito perigoso de se fazer. Pra eles é muito mais
seguro seguir no nosso quadradinho de sempre, na nossa rotina
previsível...isso sim pra muita gente é sinônimo de felicidade e
segurança...e eu entendo...
Bom, agradeci
imensamente a carona e segui de bike até a cidade, como mudei de
direção, ia pra leste e não mais pra sul, o vento deu uma trégua
até eu chegar.
Esqueci de contar,
que antes desse perrengue todo do vento, na estrada parou um carro,
era o Gustavo. Me perguntou se precisava de algo, porque como ele
vendia coisas pra lojas de bike tinha muita coisa no carro. Perguntou
também se eu tinha lugar pra ficar lá em Juarez. Eu disse que não
e ele disse que ia falar com um amigo de lá, me deu o nome dessa
pessoa e disse pra eu procurá-lo assim que chegasse.
Assim eu fiz.
Perguntei e segui pra casa do Sr. Bustamante. Ele não estava, mas
seu filho Marcelino me recebeu super bem. Ligou imediatamente nos
bombeiros e perguntou se eu podia dormir la. Depois me acompanhou até
os bombeiros.
Os bombeiros
voluntários de Juarez são dez. Meninos e meninas jovens e animados.
Contaram histórias de outros ciclistas que passaram por lá e
ficaram semanas e até meses...rss... e no fim das contas não queria
me deixar partir. Queriam me levar pros boliches (festas) da vida.
Bom, fiquei um dia pra descansar, me recompor de 3 dias de estrada
punks e no dia seguinte parti.
Em Juarez senti que
depois da ventania a temperatura mudou radicalmente. Os dias de sol
agora se transformaram e fazia muito frio. Fui ver na internet e
nesse dia que lutei contra o vento, ele passava dos 40km/hora,
chegando a quase 50 em alguns momentos. Algo realmente, pra minha
realidade, muito forte.
Há, no dia de folga
em Juarez, aproveitei pra voltar a casa do Marcelino pra agradecer
pela ajuda. Ele me convidou pra tomar um mate com sua família.
Conheci seu pai e sua mãe. Ficamos uma tarde conversando, mostrando
fotos das viagens de bike que pai e filho fizeram. Me presentearam
com uma linda camisa de ciclismo e a mãe dele me presenteou com
muita comida...rss...comidinhas pra comer na estrada. Foi uma linda
tarde. Linda mesmo. Me senti acolhida, com uma família que tinha
acabado de conhecer, mas que me abriram as portas e o coração.
Ao despedir (odeio
essa parte) a mãe do Marcelino, com os olhos cheios de lágrima, me
deu um abraço forte, desses de uma mãe que quer desejar o melhor
caminho ao filho sabe. Não tive como resistir, ser forte, e também
deixei as lágrimas caírem. O abraço dela foi como o abraço da
minha mãe. Não sei, foi uma onda de sentimentos tão forte que
todos na sala estavam com os olhos cheios de lágrimas. Abracei forte
a todos, agradeci por me fazerem sentir tão acolhida e por me
presentearem com uma linda tarde.
Há, não tem jeito
mesmo...não consigo ser forte e nem quero mais...as pessoas são a
parte mais importante dessa viagem, sim eu sei que são. Daquele
momento levei um pouquinho de cada um e sei que de alguma forma,
também deixei um pouquinho de mim alí...
No bombeiros, também
mais despedidas. A bombeira Eva, em nome de todos, deixou um lindo
recado no meu diário. Alguns prometeram estar lá as sete da manhã, debaixo de muita neblina, no dia seguinte pra despedir e partir. E realmente assim fizeram
alguns deles e ainda, o Chico, me acompanhou na estrada por 50km. Aí
em Juarez, além de abrigo, ganhei também amigos...que inclusive
prometeram visitar-me no Brasil, e espero que realmente possam ir.
Neste dia ia dormir
na cidade de Tres Arroyos. Ao chegar de novo fui aos bombeiros pedir
abrigo. E de novo lindamente me receberam. Inicialmente ia ficar na
minha barraca, cheguei até a armá-la num lugar tipo uma garagem.
Mas depois, penso que pelo frio que fazia, mudaram de ideia e me
deixaram ficar num lugar incrível, praticamente um apartamento, com
cozinha e tudo mais.
Passei uma noite
muito confortável graças a essas pessoas lindas que são estes
homens e mulheres, bombeiros, que doam seu tempo, voluntariamente,
sem ganhar um centavo, pra ajudar o próximo. E como ajudam.
Nesta cidade,
conheci o bombeiro Alexandro, super gente boa, conversamos um tempão
e ele me contou que a Carol Emboava, do Giramérica, também tinha
passado por lá e ficou hospedada com eles por alguns dias.
No dia seguinte,
apesar de dizerem que poderia ficar o tempo necessário, resolvi cair
na estrada.
A minha
primeira experiência no couchsurfing..
Neste dia seguiria pra Coronel Dorrego, nesta cidade consegui que uma
pessoa me hospedasse em sua casa por meio do site couchsurfing.com .
Fiz meu cadastro neste site ha muito tempo, mas nunca usei de fato.
Nunca recebi ninguém em casa e nem havia ficado na casa de ninguém.
Acho que nunca havia usado porque na viagem tenho usado muito o
warmshowers.org que tem a mesma filosofia, pessoas que oferecem sua
casa pra outros que estão viajando de bicicleta. E sempre preferi,
porque essas pessoas geralmente, quase sempre, já viajaram de bike,
tem experiência na estrada, e sempre podem trocar muita experiência.
Mas a experiência do couchsurfing foi muito linda...primeiro
desencontrei a Cecília, que estava em outra cidade, mas que enviou
seu filho pra me receber. O Bruno e seus amigos, super gente boa, me
receberam bem, saímos, fomos tomar mate no parque, depois fomos
comprar coisas pra fazer o jantar.
A família muito divertida, a Cecília, mãe do Bruno, viajou por
muitos lugares, o Bruno também. Eles dois viajaram numa combi da
Argentina até a Venezuela, depois ficaram no Brasil por um tempão
trabalhando e sempre tem um pensamento de viajar pra algum lugar.
Eles me prometeram uma visita ao Brasil e assim espero mesmo. Não
vejo a hora de receber toda gente que encontro no caminho em minha
casa. Queriam que eu ficasse mais dias com eles, mas tinha que
seguir...
Dia seguinte fui pra Bahia Blanca, também tinha outra casa do
couchsurfing pra ficar. Assim que cheguei liguei pro menino, que
disse que não estava na cidade, mas que chegaria em uma hora e meia
a duas. Disse ok, te espero em algum lugar. Fui pra uma praça, comi,
li, dormi...estava muito cansada, afinal, no dia anterior, na casa da
Cecília, fui dormir duas da manhã e acordei as seis. Ou seja,
quatro horas de sono.
Sei que fiquei na praça umas três horas e então tentei ligar de
novo pro menino...nada de atender...fui então pra uma lan
house...gastei mais uma hora...tentei ligar de novo...nada! Fui na
sua casa (tinha o endereço), bati interfone...NADA...resolvi que não
ia mais esperar, sabia que tinha um hostel que não era tão caro,
enfim...precisava descansar.
Fui pro hostel, me receberam super bem, me deixaram num quarto
sozinha e a bike ainda podia dormir comigo. Fiz amizade com o Damian,
funcionário do hostel e de novo constatei que acasos não existem.
Desse desencontro com o couchsurfing, outros encontros
aconteceram...então, nem fiquei chateada com o garoto do
couchsurfing, que depois entrou em contato e disse que eu podia ir
pra sua casa. Por causa dele, outras coisas boas aconteceram.
Fiquei um dia em Bahia Blanca, descansei, tentei encontrar um celular
pra comprar e definitivamente desisti. Muito caro tudo aqui na
Argentina e com qualidade não tão boa.
Outro dia...estrada de novo...faltavam 3 dias pra finalmente chegar a
Viedma. Seriam mais 290km até la. Quando saía de Bahia Blanca
constatei que havia esquecido meu cadeado e também minhas chaves,
inclusive a da tranca na bike, lá no locked do hostel. Mas achei que
não valia voltar, preferi seguir e depois tentar de alguma forma um
contato.
Assim fiz...tinha medo do vento contra me pegar, mas dei muita sorte
nestes 3 dias. Foram dias de muita estrada, mas muito tranquilos. Em
Pedro Luro de novo fui recebida nos bombeiros e queriam de toda forma
trocar minha bike por uma moto Honda Bis, diziam que eu ia chegar
mais rápido..rss..
Estes bombeiros de Pedro Luro já entraram em contato com os
bombeiros de Stroeder e no dia seguinte já teria lugar pra ficar.
Muito bom essa corrente do bem.
No caminho de Pedro Luro a Stroeder me senti realmente entrando na
famosa Patagônia argentina. Tem uma placa bem grande: “ Aqui
começa a Patagonia”. Fiquei feliz e ao mesmo tempo ansiosa. A
Patagônia é um território que sempre é lindo de percorrer, mas
mutias fezes, relatado por muitos, muito duro também...distâncias
muito longas, sem muitas coisas pelo caminho, paisagens meio que
desérticas e o famoso vento patagônico. Esse aí eu realmente não
queria cruzar com ele de novo, mas sei que fatalmente isso
aconteceria.
O dia em que
fiquei presa nos bombeiros
Esse dia que saí de Pedro Luro a Stroeder foram só 80km, de asfalto
e com condições muito boas. Cheguei a cidade ao meio dia. Ainda
cogitei a possibilidade de seguir direto mais 80km até Viedma, mas
resolvi que não. Ia aproveitar, chegar cedo, teria lugar pra ficar,
poderia descansar bem, enfim, tava tudo dentro do previsto...resolvi
dormir ali mesmo em Stroeder.
Fui então procurar o bombeiro chefe, que já me esperava. Ele também
ficou surpreso, porque cheguei muito cedo, mas já agilizou as coisas
e ligou pra outro bombeiro e pediu pra abrir o lugar pra eu passar a
noite.
Aproveitei, comprei umas coisas pra cozinhar e segui ao quartel. Esse
lugar foi completamente diferente de todos os outros que fiquei. Por
ser uma cidade muito pequena não ficava nenhum bombeiro lá, o tempo
inteiro. Só se houvesse algum chamado que eles apareciam.
Um bombeiro me recebeu disse que eu podia dormir na cozinha, havia um
colchão e poderia usar. Pra mim ótimo, tinha tudo que precisava, um
lugar seguro pra dormir e ainda podia cozinhar. Ele me mostrou onde
poderia tomar banho, que era outro lugar em outro prédio, onde
ficavam os caminhões. Bom, deixou as portas abertas e foi embora e
eu fui tomar banho e depois almocei e então dormir a tarde.
Acordei era umas cinco da tarde e fui então no outro prédio ao
banheiro, neste momento, descobri que a porta estava trancada...não
podia ir usar o banheiro. Fui ao portão e este também
trancado...pensei, tô ferrada. Me trancaram aqui dentro e agora não
posso sair.
Como era cedo ainda, pensei, vou ficar um tempo aqui e vai vir
alguém, aproveitei pra ler um pouco, organizar umas fotos...e...nada
de aparecer alguém.
Fui de novo ao portão e tinha um homem trabalhando em frente a uma
casa. Pedi pra ele se ele podia ir chamar o bombeiro, que morava bem
perto dali, ele disse que ia terminar o trabalho dele e ia.
Pensei, ok, só não posso ficar presa aqui, porque se não amanhã
não saio.rss.. Bem a noite, por volta de oito horas, o bombeiro
apareceu. Não havia sido ele que havia trancado tudo. Com certeza
algum outro passou, viu que estava aberto e, sem saber que eu estava
por lá, fechou tudo.
Bom, combinamos que ficaria com as chaves e no dia seguinte as
deixava em sua casa. Aproveitei busquei um lugar com telefone e
consegui falar no hostel. Minhas chaves estavam lá e em breve
estariam comigo em Bahia Blanca. O Damian, amigo que fiz no hostel,
ia a Bahia Blanca no domingo e levaria pra mim. Achei o máximo.
Neste dia também aproveitei que tinha um circo na cidade, desses bem
de cidade pequena, e fui ver a apresentação. Ótima programação
pra uma sexta a noite e ainda matei a saudade das aulas de circo.
Dia seguinte fui finalmente com destino a Viedma. Depois de 12 dias
que havia saído de Buenos Aires estava chegando. Foram mais de
1000km. Neste trecho realmente me senti na estrada, com as belezas e
dores que se pode encontrar numa viagem. Foi um trecho duro, mas
igualmente lindo. Sabia que a viagem seria assim. Tem momentos que a
paisagem não vai ser muito interessante e a única coisa a fazer
será avançar, pedalar muito, pra chegar a lugares que você
deseja.
Esse trecho foi bem isso...paisagens meio que repetidas por todo
tempo, mas pessoas interessantes.
Em Viedma fiquei na casa da Carlinha, uma menina linda que sempre
recebe gente, seja do couchsurfing ou do warmshowers. Ia ficar alí
uns quatro dias, esperando o dia de pegar o trem com destino a outra
parte da viagem, que já já conto.
Aproveitei esses dias pra descansar, a Carlinha me levou pra conhecer
Viedma e Carmen de Patagones que é super lindo. Passamos dias
divertidos, rimos bastante, trocamos músicas, e pra variar, comemos
bastante.
Aproveitei ainda que o Damian foi levar as minhas chaves a Viedma e
aceitei o convite dele pra ir conhecer o mar argentino. Ficamos dois
dias conhecendo a região, primeiro um lugar famoso chamado Loberia,
uma reserva com muitos, mas muitos lobos marinhos. Um lugar super
bonito. E depois fomos pro balneário El Condor, também conhecido
como La Boca, por desembocar ali o Rio Negro no mar.
Aproveitei pra despedir do verão. Foram dias lindos de sol, os
últimos do verão. Mas já fazia frio e entrar no mar nem pensar.
Mesmo assim, adorei os dias lindos. Pude admirar um por do sol
incrível na patagonia.
Depois Damian seguiu de volta a Bahia Blanca, quem sabe nos
encontramos de novo, ele também é meio andarilho. Faz um lindo trabalho apresentando
teatro em escolas pra crianças e assim já viajou por muitos países,
inclusive o Brasil.
Engraçado como que tem pessoas que encontro e parece que já as
encontrei em algum momento da vida. Graças ao desencontro do
couchsurfing conheci uma linda pessoa e fiz uma grande amizade.
Gratidão Damian pelos momentos compartilhados, pelas paisagens,
pelas músicas, por tudo!!!
Eu voltei pra casa de Carlinha, ficamos mais um dia juntas, rindo e
falando pelos cotovelos. Outra pessoa que parecia que já conhecia há
tempos. O dia de despedir dela foi triste, mas tive a certeza de que
vamos nos encontrar de novo.
Essa parte da viagem foi assim, rutas meio chatas, mas gente muito
muito linda. Sou imensamente grata a todos que me receberam nestes
dias. Imensamente grata aos bombeiros, imensamente grata a Cecília e
também a Carlinha por abrirem as portas de suas casas e de seus
corações.
De novo, com a certeza de que o melhor da viagem, são os encontros
proporcionados por ela...como tenho aprendido com cada pessoa que
encontro no caminho e como sou imensamente grata por todos estes
encontros.
Daqui de Viedma, optei por seguir em trem um percursso de 600km de
patagonia, no qual eu, provavelmente, encontraria muito rípio
(estradas de terra) e distâncias longas entre os povoados. Optei em
fazer isso também porque o inverno se aproxima, as temperaturas já
estavam baixando por aqui e não queria chegar a Bariloche debaixo de
muito frio.
Então em breve (como sempre, nem tão breve...rss...) conto como foi
o trecho de Viedma a Bariloche...como foi conhecer o famoso rípio, o
vento patagônico, as montanhas da argentina e a sensação de ver
pela primeira vez a Cordilheira dos Andes.
Ya estoy en la mitad de esta carretera
tantas encrucijadas quedan detrás...
Ya está en el aire girando mi moneda
y que sea lo que sea..
Até já e boas pedalADAs.
Resumo da Viagem:
Quer saber das outras pedalADAs? Veja aqui no mapa !
Mais fotos deste trecho da viagem em aqui!!!
Resumo da Viagem:
Dia 49 a 57 – Buenos Aires => Dias de folga
Dia 58 - Buenos Aires a Belgrano = > 158 km – Hospedagem
bombeiros voluntários de Belgrano
Dia 59 – Belgrano a Las Flores => 77 km - Hospedagem Warmshoers
Dia 60 – Las Flores a Azul => 125 km – Hospedagem Camping
Municipal
Dia 61 – Azul a Benito Juarez => 100 km – Hospedagem Bombeiros
Voluntários
Dia 62 – Benito Juarez => Dia de folga
Dia 63 – Juarez a Tres Arroyos => 104 km – Hospedagem
Bombeiros Voluntários
Dia 65 – Tres Arroyos a Coronel Dorrego => 101km – Hospedagem
Couchsurfing
Dia 66 – Coronel Dorrego a Bahia Blanca => 95 km – Hospedagem
Hostel Bahia Blanca
Dia 67 – Bahia Blanca => Dia de descanso
Dia 68 – Bahia Blanca a Pedro Luro=> 123 km – Hospedagem
Bombeiros Voluntários
Dia 69 – Pedro Luro a Stroeder => 80 km – Hospedagem Bombeiros
Voluntários
Dia 70 – Stroeder a Viedma => 85 km – Hospedagem Warmshoers
Dia 71 e 72 – Balneário El Condor => Em carro... Dias de
descanso
Distância total percorrida no Brasil => 1026 km
Distância total percorrida no Uruguai => 630 km
Distância total percorrida na Argentina =>
De Buenos Aires a Viedma = 1048 km
Distância Total Percorrida: 2704 km
(contando apenas as distâncias entre as cidades, porque de km pedalados do odômetro é bem maior, já que dentro da cidade existe o deslocamento também)
Gostou da ideia, quer saber mais e principalmente fazer parte dessa ideia maluca?
Vem aqui e veja como pode colaborar!!! :)
Vem aqui e veja como pode colaborar!!! :)
Quer saber das outras pedalADAs? Veja aqui no mapa !
Bons pedais pessoal e até as próximas!!!
Muiééé!
ResponderExcluirAinda nao respondi teu e-mail não foi? eu ensaio de respondê-lo todo dia pq é tanta coisa p/ colocar!
Mesmo agora sem face, to acompanhando neguinha e branquinha pelos posts.QUERO MAIS, QUERO MAIS hahahahahah
Tu ta botando as fotos no flickr?? Já encontrou a Carol Emboava? posta foto docês aqui, 2 inspirações (as cilistas piraaam)
to gostando que ce não tá afobada em sua viagem, que está parando e curtindo os bons lugares e as boas pessoas. Eu faria o mesmo, bem na baianidade...ou na minerice ne?
agora tenho uma prima da branquinha, chama-se espoleta (uma gatinha, tu precisa ver)
xêro e força nesses ventos aíí...como diz musica de Betânia:
"Sou como a haste fina que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta..."♪
AXÉ!
deleite-se :)
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirAi que delícia ver mensagem sua Grazinha!!!!! Que saudade amiga. To no Chile já e tô com a Carol, acredita? Haaaa muito bom encontrá-la...é uma figura de menina. E muito bom também trocar experiências e expectativas...
ExcluirComo disse as fotos estão no face...entra lá pra ver... https://www.facebook.com/umapedaladapelaamerica/photos_stream?tab=photos_albums
Beijo e me escreve logo!!!
tinha colocado o link de cordeiro de nãnã, mas não saiu no comentario anterior :( Agora vai!
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=XqPWV0M8B-o
Grazi sua linda....obrigada pela música, saudades de vcs...as fotos estão no Face ( https://www.facebook.com/umapedaladapelaamerica/photos_stream?tab=photos_albums )achei mais fácil e mais acessível colocar lá!!! Espero seu e-mail e sua visita...hahaha :)
ExcluirQue delícia hein Ada? Fico feliz por você. É contagiante ler toda essa história, forte abraço fumo e boas pedaladas.
ResponderExcluirLindeza pura, to viajando junto!
ResponderExcluir