Uma pedalADA pela América - De Salta rumo ao norte da Argentina e de novo Chi Chi Chi – le le le !!!!
Chegando a Salta já senti uma diferença tremenda, parecia outra Argentina. As pessoas já são diferentes, tanto no trato como que fisicamente, já se parecem mais com os povos andinos. Os costumes também são diferentes, nesta parte norte da Argentina já consomem muito a folha de coca por causa da altitude principalmente.
Estive um
dia em Salta para comprar uma boa meia de inverno para encarar o
cruze ao Chile. Sim, estava morrendo de medo do frio e da altitude
que ia encarar... a mais alta até esta parte da viagem, mais de 4000
metros acima do nível do mar e queria me preparar bem para esse
momento.
Bom,
aproveitei e conheci um museu bem interessante, o Museu de Arqueologia de AltaMontanha. Neste museu se pode ver múmias de crianças que foram
encontradas em alta montanha. Eram oferendas, um costume
relativamente comum dos povos
andinos. Estão aí os Niños del Llullaillac. Bom, as múmias estão perfeitas, são mostradas em um
ambiente de muito respeito. É algo realmente impressionante.
Depois do
descanso segui a Jujuy por uma estrada linda, ruta 9 (camino de corniza). Dava gosto de
pedalar. Estradinha pequena, com uma vegetação linda, parecida com
a nossa mata atlântica e um caminho com poucos carros e onde o
trânsito de caminhões é proibido. As montanhas me fizeram lembrar
da nossa linda Minas Gerais.
O norte da Argentina tem paisagens lindas. O estado de Jujuy tem uma vasta diversidade de climas e paisagens selva, puna (altiplano), quebradas e vales.
Chegando
a Jujuy entrei em contato com uma pessoa que ia me receber por meio
de couchsurfing, o Nestor, ele muito gentil saiu do seu trabalho e foi
abrir as portas de sua casa para que eu pudesse descansar até que
ele voltasse do seu trabalho.
Digo e
repito, as pessoas são a parte mais importante dessa viagem. Muitas
pessoas abriram a porta das suas casas pra mim com completa
confiança. Aí passei mais um dia de descanso e depois segui a
Pumarmarca.
O
caminnho a Purmarmarca é lindo, aí nessa estrada já começa a
Quebrada de Humalhuaca, um caminho lindo, serros com muitas cores e
de grande riqueza arqueológica.
Optei por
seguir direto a Purmamarca. Fiquei aí alguns dias a espera de
encontrar algum ciclista, e ter companhia para cruzar rumo ao Chile.
Confesso que estava realmente ansiosa para cruzar mais esta
fronteira, tinha medo do frio que me esperava, era o auge do inverno,
mês de julho, e com a altura que eu ia passar, mais de 4000 mts
acima do nivel do mar, seria certo que ia passar muito frio.
Bom, em
Purmamarca aproveitei pra cohecer a cidade de Tilcara que tem um
Pucará (uma fortaleza pré inca). Aí é um importante sítio
arqueológico e vale a pena ser visitado.
Nesta
região o uso da folha de coca é algo constante e habitual. Aí
também por toda parte se encontra a "bandeira" wiphala, que na verdade é mais que uma bandeira dos povos andinos... represente o emblema da nação andina. Nessa região também muitas pessoas já
falam o “idioma comum na região dos andes, Quechua.
Bom a
esperança de encontrar alguém pra me fazer companhia nos próximos
kms persistia, e não é que em uma tarde pela praça vejo um outro
viajante, um alemão, ele me disse que estava subindo e que no
dia seguinte podíamos nos encontrar na estrada. Pensei: “ saio bem
cedo e tento encontrá-lo”.
O medo persistia vi a previsão do vento para os próximos dias no site
windguru e era terrível, parecia tudo vermelho, ou seja, ventos
fortíssimos. Mas pensei bem, ou melhor, não pensei nada e no outro
dia cedo (ou melhor, ainda noite) já estava na estrada.
Acordei e
ventava muito. Sabia que teria uma subida muito dura pela frente.
Sairia de 2400 mts e chegaria a mais de 4100 em menos de 30 km. O
máximo de subida até este momento da viagem.
Não pude
acreditar nessa subida, a Cuesta de Lipan até então foi a subida
mais dura da viagem, pior até que Los Caracoles no Chile. Parecia
que eu estava indo pro céu. Os carros e caminhões se perdiam nas
montanhas... e quando eu pensava que ia terminar via que ainda
faltava um montão.
O pior de
tudo neste dia foi o vento contra. As previsões se confirmaram , o
vento estava muito forte. No caminho encontrei um grupo de
cicloturistas seguindo em caminho contrário e eles me disseram que
era loucura tentar subir, que em cima o vento era muito forte e que,
naquela noite, eles mal conseguiram dormir devido ao vento
fortíssimo.
Mesmo assim
eu insisti, a cada curva pensava “ vou um pouco mais” . Não
precisava disso, mas era uma luta interna, eu queria vencer aquela
montanha com a força das minhas pernas.
As vezes era
tão duro que parava, esperava as rajadas fortes passarem um pouco e
chorava e tentava seguir um pouco mais.
Por diversas
vezes carros e caminhões pararam oferecendo carona, pensavam que era
uma loucura eu estar alí. Mas eu insistia em subir um pouco mais e
mais, até que finalmente, depois de mais de 7 horas de subida
cheguei ao ponto mais alto. Exatos
4170 mts.
Aí confesso
que me emocionei um monte, chorava feito criança, mais por eu ter
conseguido vencer o duelo interno. Abracei a primeira pessoa que vi,
era um vendedor de artesania. Ele sem entender nada...rss...tentei
comer algo, afinal passei todo dia sem comer, mas era tanta
adrenalina que não conseguia. Descansei um pouco o corpo pra
seguir, afinal ainda faltavam alguns quilômetros, só que finalmente
de descida.
Segui
descendo e aí sim senti os efeitos da altitude. A cabeça doía um
pouco e o frio apertava.
Encontrei um
bom lugar pra passar a noite, ao lado de um restaurante. Coloquei
minha barraca e preparei a comida. Tive a companhia de uma lua linda
e um céu lindamente estrelado, neste dia vênus e jupter estavam
praticamente juntos. Ao fundo ainda tinha um clarão do Salar Salinas
Grandes que estava já bem perto.
Estava só
alí naquele deserto mas não tive medo em nenhum momento. Me sentia
realizada e de coração tranquilo.
No dia
seguinte passei pela primeira vez por um salar, o Salinas
Grandes...já podia sentir como seria pedalar pelo Salar de Uyuni.
Foi de novo um dia lindo, mas duro de pedal....dormi na cidade de
Susques. Aí fazia tanto frio que tinha até um rio congelado.
Dia seguinte
mais subida e pedal na imensidão da Puna, mais deserto, mais salar e
em alguns momentos solidão.
O vento,
sempre contra, castigava, era pedalar, pedalar e ter a sensação de
não sair do lugar. O vento testava minha paciência e limites.
Cheguei a uma
oficina de turismo no meio do nada e aí pedi abrigo (outros
viajantes haviam me contado que aí era um bom lugar pra ficar).
Pra minha
surpresa, por ser um lugar tão desolado, tinha até wi-fi...rssss..
Ganhei um quartinho pra passar a noite e até me emprestaram o
aquecedor elétrico. Vi no celular a previsão de temperatura e
marcava -8 ° para a manhã do dia seguinte e pela noite menos ainda.
Neste dia
coisas estranhas se passaram: meu fogareiro quebrou, assim do nada,
pode ser pelo frio ou pela altitude...não sei... sei que fiquei no
dia mais frio de todos da viagem sem janta..rss... e ainda, me
esqueci de pedir a senhora a chave da porta do meu quartinho, eu
estava alí no meio do nada sozinha, mas nem senti medo e por isso
não a pedi.
Mas depois
que já estava deitada começo a escutar vozes, eram pessoas
gritando, perguntando se havia gente. Senti muito medo, eles batiam
nas portas e tentavam abrir pra ver se tinha gente. Por sorte não
chegaram a bater onde eu estava. Mas fiquei com tanto medo que
coloquei todas as cadeiras que tinham na sala, a bicicleta e tudo
mais atrás da porta. Pedi proteção ao universo e consegui ter uma
noite tranquila.
No outro dia
madruguei, a lua estava linda e fazia um frio do cão...acho que
tinha no corpo todas as roupas de frio que eu possuía...umas três
calças e umas cinco blusas, umas três meias, duas luvas, gorro.
Apesar disso tudo as mãos e os pés congelavam.
Quando saí o
vento ainda estava amigo do ciclista, mas essa alegria durou
pouco...foram só duas horas de pedal sem vento e depois ele já
começou a incomodar...pedalava e nada de sair do lugar...o vento
testando minha paciência...mas no dia anterior, como ventava muito
eu tinha dito pra mim mesma que não ia lutar mais contra ele. Para
mim era uma vitória ter conseguido pedalar até ali e não teria
problema nenhum se tivesse que seguir de carona. Eu estava cansada de
lutar com meu inimigo invisível.
O vento
apertou um pouco, em duas horas tinha pedalado 12 km debaixo de frio
de menos muitos graus. Não pensei duas vezes e assim que passou um
caminhão pedi carona...na segunda tentativa consegui êxito.
Estávamos eu, Branquinha e dois bolivianos ali num caminhão no meio
do nada. Segui com eles até o passo de Jama. Aí fui informada pela
polícia Chilena que não podia seguir pedalando porque havia
previsão de neve nos próximos dias e seriam 200 km sem
absolutamente nada.
Bom, subi em
outro caminhão, dessa vez com um argentino e segui com ele até San
Pedro do Atacama – Chile. 200Km de estradas lindas. Eu ali dentro
do caminhão quentinho e lá fora a temperatura, as três da tarde,
era simplesmente -5 °. Pensei que tinha tomado a decisão correta de
seguir de carona. Mais emocionante dessa parte do caminho foi passar
uns 40 km de pura descida em um caminhão... medo desse bicho grande
perder o freio... mas no fim deu tudo certo!!!
Assim,
consegui de novo chegar ao Chile!!!!!
Mais fotos deste trecho da viagem em aqui!!!
Resumo desta parte da Viagem:
Resumo desta parte da Viagem:
Dia
155 => Salta a Vaqueiros = > 18 km => Couchsurfing
Dia
156 => Salta
Dia
157 => Vaqueiros a Jujuy => 85 km => Couchsurfing
Dia
158 => Jujuy
Dia
159 => Jujuy a Purmamarca => 67 km => Hostel
Dia
160 => Purmamarca – Tilcara – Purmamarca => 60km =>
Hostel
Dia
161 => Purmamarca
Dia
162 => Purma,arca a Saladillos => 53 km => Camping
restaurante a 7km antes do Salar
Dia
163 => Saladillos a Susques => 84km => Pensão
Dian164
=> Susques a Oficina de Turismo – Puna => 60km => Oficina
de turismo
Dia
165 => Oficina de Turismo a San Pedro ( Chile) => 12 km
pedalados e 200 km em carona => Warmshowers
Gostou da viagem, quer saber mais e principalmente fazer parte dessa ideia maluca?
Vem aqui e veja como pode colaborar!!! :)
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Quer saber das outras pedalADAs e onde estou agora? Veja aqui no mapa !
Bons pedais pessoal e até as próximas!!!
Vc é louca, já disse isso. Bem.
ResponderExcluirPassei por esse trecho no verão, de moto, e passei um frio lascado. Quando as nuvens ocultavam o sol a coisa ficava pior ainda. Corri o risco de tomar chuva, acredite, coisa que aconteceu com outro grupo de motociclistas de Brasília que passaram pelo mesmo local no dia anterior. Eles relataram a desgraça que é ter as mãos molhadas naquela altura, e temperatura...no verão.
Mas o mais sensacional, dentre todas as sensacionalidades, foi descer os 40 km para San Pedro. Perdeu, mocinha. Aquela descida é maravilhosa, embora o terreno ao redor pareça um filme de ficção pós apocalíptico.
Vc é louca! Está me matando de ansiedade e preocupação. Tô muito feliz por vc estar bem e se realizando, mas te acompanho com muita apreensão.
Parabéns. Muitos parabéns. Te cuida e juizo...se vc sabe o que é isso...
Hahaha...Fred adoro seus comentários...realmente perdi de não descer pedalando, mas confesso que descer de caminhão me deu um medo tremendo....esse bicho grande e aquela descida enorme...mas as paisagens realmente são lindas e inesquecíveis!!!! Tomo cuidado sim...pode ficar tranquilo...mas pensamentos positivos são mais que bem vindos sempre!!!! :) Beijo e saudades de vcs!!!
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ResponderExcluirLugares lindos, paisagens maravilhas, belos depoimentos q faço questão de ler todos ..... sou sua fã ... em breve nos encontramos bjs se cuida ...
ResponderExcluirObrigada Vivi...
Excluirfico feliz em ver que gosta de ler os relatos...nos vemos en la ruta!!!
Beijo grande!!!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAdinhaaaaaa!!! Que emocionante ler de você esse longo e belo trecho. Te digo que és uma pelejadora da bike! Quem já passou montado num motor em épocas menos nocivas aos humanos, sabe a grande dificuldade que é o percurso. Fico imaginando você "pernocando" isso tudo e mais, enfrentando os ventos, frios e duvidas... Que maravilha de experiência. Achei legal você ter deixado um pedacinho lindo da Argentina pra voltar depois. Sabe aquela casinha de pedras e barro, se não me engano no caminho pra Purmamarca? Vi um casal de ciclistas jogados ali, parei pra oferecer ajudar, achei que estivessem mal... estavam só exaustos se escondendo do calor. rsrs Beijas
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