As aventuras da praia do Cassino até o Chuí...
Bom, como disse anteriormente, tomando café da manhã na casa do Diego, depois que a Andréa havia chegado, resolvemos seguir pela praia do Cassino mesmo. A Andréa me animou, olhamos as previsões do tempo na internet (que não eram muito boas, cheias de ventos com setinhas vindas do sul) e, depois de um papo com o Diego e com o seu pai, o Sílvio, resolvemos que íamos encarar as areias da famosa Praia do Cassino.
Saímos e ainda pudemos admirar o lindo nascer do sol, era como se o
sol, também dissesse, vai meninas, o Cassino te espera. E assim
fizemos.
O primeiro trecho estava tranquilo. Fomos até o famoso navio Altair, tiramos fotos, comemos e seguimos. Ainda conseguimos pedalar bem por uns 20 km depois do navio.
O primeiro trecho estava tranquilo. Fomos até o famoso navio Altair, tiramos fotos, comemos e seguimos. Ainda conseguimos pedalar bem por uns 20 km depois do navio.
As dificuldades começaram quando tínhamos pedalado uns 35km, muito
sol, e a areia estava ficando fofa, por várias vezes tivemos que
descer da bike e empurrar. Os riachos que desaguam na praia estavam
ficando cheios também, e , em um deles tivemos que tirar todas as
coisas pra atravessar com a bike.
Neste momento o sol apertava, era como que meio dia e não estávamos
nem na metade do caminho previsto para aquele dia. Fiquei preocupada,
porque, eu, como sempre, cheia de pensamentos positivos, pensei que
daríamos conta de fazer a praia toda em dois dias, quizas três
dias.
Sim, claro, isso seria possível se as condições climáticas
estivessem boas. Enfim, passados alguns quilômetros ora pedalando e
ora empurrando, chegou uma parte em que somente empurrávamos. Foi
terrível. Marquei como referência um desses cataventos gigantes de
usina eólica e empurrava infinitamente e nunca que conseguia
passá-lo.
Em uma hora empurramos conseguimos passar apenas 3km. Foi muito
desgastante. Pensava na água que poderia acabar, pensava em parar e
tentar acampar em algum lugar e pensava também em pedir uma carona
(sim, passam carros pela praia), mas que carro passaria ali naquelas
condições climáticas?
Então, como que fosse uma miragem, avistamos um carro, não pensei
duas vezes, gritei e pedi carona. Bom, o cara foi gentil, parou pra
dizer que o carro estava cheio e que não tinha como ajudar. Ok, o
carro nem tava tão cheio assim, mas de uma certa forma isso foi bom
porque tivemos a esperança de que outro carro (leia-se caminhonete
tracionada … rss.. ) passaria, e foi exatamente o que aconteceu.
De novo, como uma miragem, duas caminhonetes apareceram e de novo
gritei e pedi ajuda, eles, super simpáticos pararam e disseram: “mas
bahhh, tem muita coisa no bagageiro, mas podemos tentar ajeitar as
coisas pra caber vocês e as bikes”. E assim fizemos. Ajeitamos
tudo e seguimos com eles, eu, a Andréa e as bikes e algumas caixas
na carroceria da caminhonete.
As pessoas que nos deram carona, eram dois casais, com suas famílias
que iam rumo ao Chuí pra passar o fim de semana. No meio do caminho,
numa parada pra tirar fotos e também a água do joelho, descobrimos
que era aniversário de um deles, e como que do nada, surgiram
cervejas geladérrimas e também sanduíches variados. Não dava pra
acreditar, que depois de pegar uma carona salvadora, ainda ganhávamos
sanduíches e cerveja (super gelada).
Bom, a turma era muito divertida, nos convenceram a não ficar na
base do Ibama, que era nossa ideia de parada inicial, e disseram pra
gente seguir com eles até o Farol do Albardão, porque lá, tem mais
estrutura e geralmente eles recebem as pessoas que passam pelo
caminho.
Aceitamos o conselho e seguimos rumo ao Albardão, que fica mais ou
menos no km 115 da praia. Super simpáticos, conversaram com os
Faroleros César e Murilo para que nos recebessem por uma noite. Eles
nos deixaram acampar nas proximidades (#SQN) e também nos deram
apoio....bem, não podemos falar muitas coisas, mas o que se sabe, é
que sim, tivemos uma noite tranquila nas proximidades do farol do
Albardão graças ao apoio dos meninos e também da receptividade do
mascote deles, o lindo cachorro Albardinho (haimmmm vontade de levar
comigo).
Dia seguinte, acordamos cedo e saímos, pensando que finalmente
conseguiríamos pedalar alguma coisa. O início do pedal já estava
difícil, com o pneu da bike afundando na areia por várias vezes.
Foram uns 10km assim.
Há, não posso esquecer de duas coisas. A primeira é que,
lamentavelmente, neste trajeto e até o Chuí, avistamos muitos,
muitos animais mortos. A quantidade de peixes era enorme, muita
mesmo. Nos disseram que era por causa dos pescadores que vão pra
alto mar com redes e que descartam muitos peixes que não são
comerciais e assim eles morrem e voltam pra areia. Pude contar também
como que umas 15 tartarugas mortas num raio de 220km, e eram
tartarugas enormes. Dava muita pena ver aquilo. Mas enfim,
conversando também com as pessoas disseram que a maioria morre
porque come plástico que é jogado no mar, por confundir com as
algas. Triste ver tanta devastação causada pelo bicho homem.
Outra coisa a contar é que neste dia, 08-02-2015, completei meus
primeiros 1000 km pedalados nesta viagem. Alegria imensa pensar que
há tão pouco tempo saí de casa e já andei tanto. Gratidão
Branquinha por ter se comportado tão bem neste caminho.
Bom, continuando, neste dia depois de pedalar apenas 10km sabíamos
que o mar não tava pra peixe, digo, que a areia não tava pra pedal.
Mas, como sempre, como que num filme, surge do nada uma caminhonete,
dessas mais antigas, dentro dela o motorista Ricardo, também
conhecido como Pastor, e seus dois cachorros.
Ele disse que tinha vindo buscar a gente, não entendemos nada, na
verdade depois juntamos os fatos e descobrimos que ele ia encontrar
um casal que havia saído de Rio Grande no mesmo dia que a gente, mas
muito mais tarde, então, devido às condições do tempo, achamos
que eles estavam bem atrás ainda.
Resumo da história (porque daqui não podemos contar muito,
atendendo a pedidos), fomos resgatadas por este homem, fomos pra um
lugar que ainda não existe no mapa (eu acho que é um universo
paralelo pelo qual conseguimos cruzar o portal) chamado RDPP –
República Democrática Praia do Pastor. Um lugar sem leis, regras,
administrado pelo Pastor e sua esposa, carinhosamente chamada por ele
de Gi.
Dia seguinte, segundo as previsões climáticas do Pastor, seria
finalmente um dia pedalável. Acordamos cedo, ajeitamos as coisas e
fomos nós cruzar o portal pra sair da RDPP, e não foi nada fácil.
Tínhamos que cruzar uma duna pra sair de lá, empurrando as bikes e
finalmente chegamos à praia e vimos que realmente se pode pedalar na
Praia do Cassino. Realmente é como uma autopista, lisa, dura e se o
vento tiver noroeste, você vai longe...voa...
E neste lindo caminho vimos uma das coisas mais lindas da viagem até
agora...um leão marinho, VIVO e solto na natureza. Inicialmente
achávamos que ele estava morto, até aproximarmos um pouco mais.
Então Andréa solta o seguinte: Ada, imagina se ele estivesse
vivo. E, de repente, escutamos seu suspiro e com a nossa
aproximação ele levanta a cabeça. Nos assustamos, mas ele mais que
a gente (deve ter pensado, quem são esses seres estranhos na minha
praia) e saiu, correndo, rumo ao mar.
Eu fiquei boquiaberta, nunca tinha visto coisa tão linda assim,
solta na natureza e eu lá, junto. Foi muito emocionante. Eu e Andréa
ficamos sem acreditar por um bom tempo.
E como sim, hoje, o mar estava pra ciclista, rapidinho chegamos à
famosa Praia do Hermenegildo, ou Hermena, como ela é carinhosamente
chamada. Uhuu...terminamos a parte mais difícil da praia gigante.
Confesso que me decepcionei, justamente porque eu esperava
muito mais. Mas enfim, era bonitinha sim. Era uma praia comum, com
uma vila simples (mas cara).
Depois de muito procurar conseguimos abrigo a um preço justos. As
pousadas e os moradores estavam cobrando bem caro por quartos e
cabanas. Quase sem querer cruzamos por esta pousada e resolvemos
perguntar. O dono fez um preço camarada e eu e Andréa ficamos.
Aproveitamos que ainda era cedo, chegamos antes do meio do dia, e
fomo almoçar e depois ir a praia. Tiramos o dia pra descansar.
No dia seguinte seguimos rumo ao Chuí, na verdade era rumo à Barra
do Chuí, que realmente é a parte mais ao sul do Brasil. O percurso
até alí era curto, menos que 10 km. Estava ansiosa por chegar ao
ponto mais ao sul do meu país e por finalmente cruzar pra um país
desconhecido.
Ao chegar a Barra do Chuí se pode ver, de um lado Brasil e do outro
Uruguai. Mas, se você não souber vai achar que é tudo Brasil,
porque não tem bandeira, ou nada pra mostrar isso.
Admiramos a paisagem, afinal, eram os últimos km de Brasil. Deu sim
um aperto no peito, eu confesso, e confesso também que estava muito
feliz por ter tido a companhia da Andréa pra cruzar essa parte do
caminho tão dura, mas ao mesmo tempo tão mágica. Se ela não
estivesse junto eu teria ido pelo asfalto, e com certeza, não teria
vivenciado tantas coisas mágicas como vivemos naqueles dias.
Resolvemos seguir até o Chuí pra fazer os trâmites aduaneiros e
também pra trocar dinheiro pela moeda uruguaia. Foram mais 10 km até
lá. E no Chuí, também como num passe de mágica, de um lado da
avenida é Brasil (avenida Uruguai) e do outro lado é Uruguai
(avenida Brasil).
No Chuí se pode notar a confusão de toda fronteira, mas nem se
compara com a fronteira com o Paraguai, por exemplo, em Foz do
Iguaçu. E nessa cofusão toda, ainda encontramos mais dois ciclistas
Brasileiros, que saíram de Brasília e iam até Buenos Aires. A
página deles é www.naestradadebike.com
.
Comemos e seguimos juntos uma boa parte do caminho.
Há, como sei que muita gente pode querer fazer esse trajeto, que é lindo e que também pode ser incrivelmente duro, como foi pra gente, eu recomendo um site que encontrei na internet e de onde tirei muita, mas muita informação útíl: http://trioriogrande.blogspot.com.br/2013/02/cicloturismo-balneario-cassino-barra-do.html
De percorrer este trajeto fica o seguinte aprendizado: respeitar a natureza e suas vontades SEMPRE, não queira ser superior a ela. Respeito ao mar, à força incrível que a lua exerce sobre ele, e a tudo que nos cerca.
O mais difícil de percorrer essa imensidão deserta de praia pra mim, não foi a exaustão física. Mas sim o desafio, de estar em meio a essa imensidão de mar e areia por todo lado, sendo sua única paisagem por muito, muito tempo. É um desafio psicológico. E ainda, a sensação de sermos tão pequenos (e as vezes impotentes), frente a tudo que nos cerca. Na verdade, somos mesmo um pontinho no meio dessa imensidão chamada mundo.
Bom, esse trecho, e todo trecho do Brasil me trouxeram muitos
momentos bons, paisagens bonitas, ensinamentos, pessoas muito
especiais. Pude sentir o que estava por vir, e , também, entender o
verdadeiro sentido dessa viagem. E mais ainda, a cada km pedalado,
tive a certeza de que sim, fiz a escolha certa, de me dar a
oportunidade de vivenciar todas esses momentos.
Gratidão imensa e muito amor.... O Uruguai também foi lindo..já já conto como foram
essas dias lindos neste país maravilhoso.
Vamos pedaleando
contra el viento,
detrás de las olas.
contra el viento,
detrás de las olas.
Resumo da viagem:
Dias 20 – Praia do Cassino até o Farol do Albardão => 40km
pedalados e 91km de carona - Hospedagem (em frente ao farol... não deixou de ser... :0 )
Dia 21 – Praia do Cassino até a RDPP => 14 km pedalados e 17
km de carona - Hospedagem RDPP
Dai 22 – Praia do Cassino de RDPP até a praia do Hermenegildo =>
44km - Hospedagem Pousada Recanto do Araca
Dia 23 _ Praia do Hermenegildo até Chuí => 25 km - Apenas passamos, sem hospedar.
Distância total percorrida no Brasil (contando apenas as distâncias
entre as cidades, porque de km pedalados do odômetro é bem maior,
já que dentro da cidade existe o deslocamento também) => 1026
km
(P.S: quem tiver interesse em saber dos percursos no GPS pode consltar aqui no Strava :) acho que fica mais fácil assim )
Mais fotos deste trecho da viagem aqui!!!
Gostou da ideia, quer saber mais e principalmente fazer parte dessa ideia maluca?
Vem aqui e veja como pode colaborar!!! :)
Vem aqui e veja como pode colaborar!!! :)
Quer saber das outras pedalADAs? Veja aqui no mapa !
Bons pedais pessoal e até as próximas!!!
GUERREIRAAA!! Carmba cara, deixando todo mundo no chinelo...eu não tive as ¨moral¨ de ir pela areia... sensacional Ada!! <3 Un besso muchacha!
ResponderExcluirHahahaha Betooo, eu só tive "as moral" pq tinha companhia de uma amiga tbm guerreira...hihihi...Bjo fiote!!!
ExcluirMassa, Adinha!!!
ResponderExcluirQue legal, Ada!!!
ResponderExcluirVocê rodou muito antes de sair do Brasil!! Caraca!!
Que delícia!!! Que os ventos continuem muito bons pra você!
Fiquei curiosa para saber o que há depois do portal... muito legal a aventura!
ResponderExcluirhahaha Tiane adoraria contar...mas a pedidos, tenho que preservar tudo que nos passou aí... Mas realmente a praia do cassino é um lugar com seus mistérios!!! :)
ExcluirBoa noite, meu nome é Alex Dias e eu sou estudante de turismo da FURG de Santa Vitória do Palmar, eu gostaria de utilizar uma de suas fotos da pedalada até a Barra do Chuí para amostra em um banner sobre turismo e imagem.
ResponderExcluirSe tiver interesse gostaria de contatasse pelo e-mail. academicoalex@hotmail.com
Oi Alex, desculpa mas só vi sua mensagem agora. Não tem problema nenhum em usar as fotos...só te peço que preserve a fonte e a autoria das mesmas.
ExcluirAbraços!!!