PedalADA pela América - Brasil - Rio Grande do Sul



De Araranguá segui rumo a Torres cidade já pertencente ao Rio Grande do Sul. Neste dia não tinha mesmo escapatória, seriam cerca de 70 km quase sempre pela BR 101. Já na saída de Araranguá avistei um outro cicloturista, mas como ele ia em sentido contrário não tivemos oportunidade de conversar. Foi o primeiro que encontrei na viagem. Apenas trocamos um longo tchau enquanto nos víamos e seguimos adiante.

Tive um rendimento muito bom neste dia, o tempo tava bom e às 13hs já estava na cidade de Passo de Torres, a última cidade de Santa Catarina. Ela fica ao lado de Torres e o que separa os dois estados é apenas uma ponte.

Na entrada de Torres tentei saber onde era o centro de informações turísticas, mas as informações foram meio desencontradas e fiquei perdida alguns minutos na cidade. Só depois consegui localizar. Me dirigi até lá pra saber onde poderia me hospedar, as pousadas e até mesmo albergues eram muito caros, resolvi ir ver os campings. O primeiro que vi, o Camping Guarita era até bem grande, mas não gostei da estrutura de banheiro e cozinha deles. Também haviam pessoas com carros com som bem alto, isso me incomodou um pouco.

Segui pra ver os outros e eram ainda piores, quando já tinha resolvido ficar no Camping Guarita avistei outro cicloturista que acabava de chegar em Torres também, o Leonardo. Fui falar com ele e resolvi seguí-lo até a praia da Cal, foi então que avistei o camping Furnas que era bem melhor e com um ambiente bem mais familiar que os outros. Resolvi ficar alí e ainda tinha a vantagem de ser ao lado da praia. Dormir com o barulhinho do mar é muito bom.
Disse pro Leonardo voltar depois pra gente papear, ele iria encontrar o amigo que ia hospedá-lo.
Ajeitei as coisas no camping e fui tentar comer algo e tomar uma cerveja gelada pra comemorar a chegada.



A noite o Leonardo voltou com seu amigo Régis e, acreditem, acasos não existem, o amigo dele era simplesmente também amigo do casal Patrícia e Sander que me receberam em Araranguá. Fiquei muito impressionada com isso, como o universo conspira e as pessoas realmente se encontram. Por ter encontrado o Leonardo acabei conhecendo o Regis e também o Miguel (uma lenda do cicloturismos), ambos amigos do Sander e da Patrícia e ainda por causa de todos estes encontros ainda acabei reencontrando o Sander, que foi até Torres só para presenciar o encontro desse bando de cicloturista. Realmente foram encontros e muitas trocas de experiências.

O Leonarno está fazendo uma viagem pelo seu estado, o Rio Grande do Sul, e já havia percorrido mais de 1000 km e o Miguel, ele simplesmente, em 1991, saiu do Rio Grande do Sul e foi até os Estados Unidos, numa bike de 10 marchas. Se hoje nos chamam de louco por fazer isso, imagina naquela época. Foi simplesmente muito rico encontrar essas pessoas e poder saber um pouco de suas histórias e principalmente aprender muito com eles.


Bom, eu não tinha muitas expectativas com relação a Torres, mas por isso mesmo me surpreendi muito positivamente com a cidade. Achei muito bonita e com montanhas e praias. Uma combinação perfeita.

Acabei ficando ali 4 dias, depois de muito escutar que esta seria a primeira e mais bonita praia do RS, pois as outras se resumiriam a uma extensa faixa de areia e com o mar de cor mais escura. Ainda bem que escutei o que disseram e aproveitei bastante, porque depois, realmente as praias não são muito atraentes se comparadas às belezas naturais que eu havia visto até ali.

Saindo de Torres seguiria pra Tramandaí, mas no caminho iria encontrar a Izabel, uma outra amiga que ainda não conhecia...rss... A Izabel, assim como o Sander, me deu um monte de dicas sobre a região quando enviei um e-mail num grupo de mensagens do Clubede Cicloturismo do Brasil (que eu super recomendo aos que tem interesses em assuntos cicloturísticos) e como eu passaria bem próximo a sua cidade ela disse que iria pedalar comigo por um trecho. Achei a ideia excelente. A encontrei próximo a uma cidade chamada Arroio do Sal e pedalamos juntas por um tempo, até que começou a ventar horrores e também a cair uma chuva daquelas. Foi tenso. Simplesmente não dava pra pedalar por causa principalmente do vento contra.

Bom, vendo a situação, e como estávamos próximas a sua casa, ela ofereceu novamente pra eu ficar lá e, claro, eu aceitei. Nada melhor que abrigo seguro e banho quente depois de pegar uma chuva. E bom mesmo foi ter podido conhecê-la, escutar suas histórias, trocar experiências de viagens e de vida. Adorei o dia que compartilhamos e ela também prometeu me encontrar no caminho. Vê lá em Izabel, to contando com isso!!!!



De Arroio Teixeira (cidade da Izabel), segui para Palmares do Sul. Seriam mais de 100 km, visto que no dia anterior havia pedalado menos que o previsto. E foi um dia de muito sol e muito vento contra. As vezes não conseguia passar dos 12km/h. Não sei o que era pior, o vento ou o sol, ou a linda combinação dos dois...rss...

Mas, no caminho ganhei um presente lindo. Passei por uma estradinha lindaaaaaaaaaaaaaaaa...chama túnel verde. São árvores que cercam a estrada e formam um túnel lindo e refrescante...
Cara, mas tudo que é bom dura pouco, e claro, a estradinha acabou e lá veio de novo o sol e o calor...mas, enfim, não reclamo, porque sei que numa viagem assim não existem apenas dias lindos.



Então, depois do túnel verde, segui as recomendações do Sander (aquele mesmo lá de Araranguá...ele é tão gente boa, que me deu dicas de todo caminho até o Chui :) ) e passei por um corta caminho que era uma estradinha de terra.

Já no início da estrada vi um casal que ia pescar e resolvi perguntar como era a estrada, se era boa, ou se tinha muita areia. O senhor respondeu: Mas bahhhh, pode ir tranquila guria. Tem só um pouco de areia, mas é bem pouco. (#SQN)





Eu, claro, acredito nas pessoas e fui feliz da vida. Acho que esse corta caminho devia ter uns 10 km, desses 10, uns 5 eram de areia, uma areia fofa, mas ainda pedalável...rss...realmente de carro isso deve ser bem pouco, mas de bike...mas, de toda forma, acho que foi super válido passar por aí. Saí da estrada que estava super movimentada e sem muito acostamento e passei por um lugar mais tranquilo.

Em Palmares do Sul não havia camping, a cidade tem dois hotéis, um muito caro e um pagável. Foi a primeira vez que me hospedei em hotel, mas como sigo só, não me arrisco a fazer camping selvagem ainda. A não ser que seja realmente extremamente necessário. E ficar no hotel neste dia foi revitalizante, precisava descansar bem, porque os outros dias seriam tensos.

Seriam dias tensos, pois iria encarar a famosa estrada do inferno, são retas infinitas, um plano que não acaba nunca, e muitas vezes sem nada, mas nada mesmo pelo caminho. Apenas você e a estrada. E seriam assim os próximos quilômetros até Rio Grande.

De Palmares do Sul até Mostardas foram 120km, no início ainda com vento contra, mas depois, graças ao bom Pai, o vento ficou relativamente a favor e o sol não foi tão tenso. Consegui chegar lá em Mostardas antes das cinco da tarde. O camping que disseram ser bom, com vista pro por do sol na lagoa, estava deserto, então segui pra cidade a procura de hospedagem. Existem alguns hotéis e pousadas pra todos os gostos e bolsos.

Me hospedei no hotel Mostardense, o dono foi super gente boa, fez um preço super em conta e ainda com café da manhã. E ainda a bike podia ficar no quarto. Também me surpreendi com a cidade. Super charmosa, com casas antigas com traços portugueses.

Bom, dia seguinte, não teria tanto chão pela frente, mas mesmo assim saí cedo. A próxima parada seria a cidade de Bojuru. Neste caminho se passa por dentro do Parque Nacional Lagoa dos Peixes. Engraçado que a estrada cruza por dentro do parque. Existem muitas aves diversas que podem ser observadas.

Uma coisa triste que observei nesta e nas outras estradas dos últimos dias foi a quantidade imensa de bichos mortos. Muitos e os mais diversos possíveis, cobras (várias e de varias espécies), lagartos (grandes e pequenos), bichos que nem sabia o nome, enfim, muitos mesmo, a todo tempo.



Há, neste dia aconteceu algo não muito bom. Levei um tombo feio. Bom, podia ser pior, na verdade foi uma manota tremenda de minha parte. Foi tentar tirar uma foto em movimento (não façam isso por favor), a câmera ameaçou cair pra um lado, eu tentei segurar, me desequilibrei e voou bike pra um lado, alforje pra outro, Ada pra outro, enfim. Sorte que não vinha carro, me levantei rápido, juntei as coisas e fui avaliar o estrago.

Pra ajudar não estava de luvas, então, ralei a mesma mão já ralada outras vezes no mesmo lugar. Dei uma leve machucada em um dedo, que também ainda tinha lembranças de outras quedas e dias depois, descobri que também tinha ganhado enormes roxos na perna. Fica então o aprendizado e a dica: não faça isso! Realmente poderia ter sido algo nada agradável.

A foto do tombo ... :(

Novamente o tempo, as condições de vento, tudo colaborou e, mesmo com o tombo, as 12hs estava em Bojuru. Um povoado, muito pequeno. Gente, levei um susto quando cheguei. Parecia cidade fantasma, nem um ser pelas ruas. Por sorte, vi um senhor em uma garagem e resolvi perguntar onde eram as pousadas (sabia que eram duas e que era praticamente uma ao lado da outra).

Ele me mostrou e já disse que eu poderia me hospedar na Pousada Lucas, porque a outra, o dono havia falecido naquele mesmo dia. Só neste momento entendi porque a cidade estava sem gente pelas ruas. As pessoas estavam no velório.

Há, a Celita, dona da pousada, quando me recebeu e viu que eu estava só, logo se assustou e fez uma série de perguntas: você tem família? rss , Tá pagando promessa? Brigou com o marido? rss..Achei foi graça tantas perguntas!!!

Dei uma sorte infinita, achei ainda um almoço caseiro delicioso com direito a dois ovos fritos (amoooo ovo) e ainda a cerveja mais gelada apreciada em toda viagem. A cerveja tava tão boa, que quase que a tomei num gole só (mãe, mentira tá!!! rss ).

Bom, me restava voltar pra casa depois do almoço e dormir, e foi o que fiz. Dormi feito pedra a tarde toda, até o pessoal sair do enterro do senhor e se posicionar exatamente embaixo da minha janela..rss.. Foram meu despertador. Depois disso, a cidade não tinha mais nada de fantasma. Sei que teve gente falando por debaixo da bendita janela (que ficava virada pra rua) até umas três da manhã.

Dia seguinte, pé na estrada de novo. Rumo a Rio Grande, ia de novo, encontrar pessoas queridas e ter uns dias de férias.

Pra passar de São José do Norte pra Rio Grande tem que pegar uma balsa e foi lá que descobri, quando fui perguntar dos horários, que o dia que chegava, 02-02, era dia de Iemanjá e, portanto, feriado.

Descobri ainda que teria uma procissão de barco e claro, fiquei esperando pra ver. E valeu muito a pena. Foi muito lindo. Sempre quis participar de uma festa de Iemanjá e desta vez estava lá, vendo tudo de pertinho. A procissão foi muito bonita e quando cheguei a praia do Cassino ainda vi melhor a dimensão da devoção das pessoas. Eram muitas e muitas oferendas à Iemanjá. Flores, frutas, comidas, bebidas, velas, tudo que se possa imaginar.







Bom, em Rio Grande, me hospedei na casa do Diego e fiquei lá por quase uma semana a espera da Andréa, que chegaria no sábado pra pedalar comigo até o Uruguai.

Conheci o Diego em Brasília, há pouco menos de um ano. E, claro, não existem acasos. Ele me presenteou com muitas informações sobre essa região, sobre a famosa praia do Cassino, antes mesmo de eu conhecê-la e, por causa dele, iria dalí a alguns dias, realizar a maior aventura, até então, dessa viagem, tanto que merecerá um capítulo a parte. :)

Em Rio Grande, aproveitei e matei a saudade do Diego, já que não o via desde novembro, quando ele se mudou de Brasília. Em sua casa, a sua família me recebeu de braços abertos. Seus pais foram super carinhosos comigo. Até experimentei o famoso churrasco gaúcho especialmente preparado pelo seu Sílvio. Foram dias bons. Alí também presenciei o nascer de lua mais lindo e esplendoroso de toda minha vida. A lua nascendo no mar, gigante e rosa. Acho que nenhuma foto consegue reproduzir tamanha beleza.



Dieguito e sua família que me receberam super bem!!!



Lá também tomei banho de arroio, que pra nós mineiros é banho de riacho, uma delícia, água pura, praticamente no quintal de casa. E também conheci pessoas lindas, como o amigo do Diego, o Daniel e sua linda família e cachorros. O Daniel deu um super trato na Branquinha, deixou ela lindinha e pronta pra encarar os próximos duros quilômetros e ainda me presenteou com uma linda blusa da turma de pedal dele, além claro, de me dar umas dicas de manutenção da bike. Foi praticamente um Moisés de Rio Grande (Moisés é o anjo mecânico da Branquinha em Brasília).


Daniel e sua família :)

Há, não posso esquecer, além de ter a maior praia do mundo (registrada no guinnes book, porque de fato não é a maior praia, mas enfim), com 220km de extensão, a praia do Cassino, Rio Grande tem também uma parte histórica muito rica. É a cidade mais antiga do Rio Grande do Sul, tem casarios históricos lindos, muito museus, inclusive um museu Oceanográfico que é bem interessante.

Bom, os dias de folga acabaram e a Andréa chegaria no dia seguinte, no sábado, para enfim seguirmos rumo ao Uruguai. Fomos buscá-la as quatro e meia da madrugada na rodoviária e seguimos pra casa do Diego pra organizar as coisas pra partida.

O que se sabe é que alí, tomando um café pela manhã, resolvemos que iríamos mesmo pela praia. E assim fizemos. Mas antes disso, mais despedidas, um abraço longo e apertado no seu Sílvio e também no Diego. A partida de novo não foi fácil, estar ao lado de pessoas queridas por um período maior e se despedir não é fácil...acho que não vou me acostumar nunca... mais um abraço e um longo tchau e seguimos eu e Andréa.



Sobre a aventura na praia do Cassino conto depois, ela com toda certeza merece um capítulo lindo a parte.

Se alguém
Já lhe deu a mão

E não pediu mais nada em troca
Pense bem, pois é um dia especial
 Dia Especial
Cidadão Quem






Resumo da viagem:
  • Dias 9 e 10 - Torres
  • Dia 11 - Torres - Arroio Teixiera - 52km - (GPS https://www.strava.com/activities/248285736 e https://www.strava.com/activities/248285741 )– Hospedagem Casa Izabel
  • Dia 12 - Arroio Teixiera a Palmares do Sul - 104km (Gps https://www.strava.com/activities/248285753 ) - Hospedagem Hotel
  • Dia 13 - Palmares do Sul a Mostardas - 117 km (Gps https://www.strava.com/activities/248781665 e https://www.strava.com/activities/248781670 ) - Hospedagem Hotel Mostardense
  • Dia 14 - Mostardas a Bojuru - 80 km - Hospedagem Pousada Lucas
  • Dia 15 - Bojuru - Rio Grande - 102 km- Hospegagem Casa do Diego
  • Dias 16 a 19 - Rio Grande
  • Distancia total percorrida: 805 km

(P.S: quem tiver interesse em saber dos percursos no GPS pode consltar aqui no Strava :) acho que fica mais fácil assim )


Mais fotos deste trecho da viagem aqui!!!





    Gostou da ideia, quer saber mais e principalmente fazer parte dessa ideia maluca? 

    Vem aqui e veja como pode colaborar!!! :)


    Quer saber das outras pedalADAs? Veja aqui no mapa !

    Bons pedais pessoal e até as próximas!!!


    Comentários

    1. Tô amando sua viagem. Aguarde que passaremos uns dias juntas nessa sua viagem! :D

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      Respostas
      1. Sim Tati, espero mesmo que isso aconteça...tudo está sendo muito muito lindo!!! :)

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    2. Nossa, muito bacana tudo isso! Engraçado como encontramos pessoas que indiretamente ou diretamente conhecem alguns amigos heheheh Maravilhas pra ti Ada.

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    3. "No momento em que nos comprometemos, a providência divina também se põe em movimento.
      Todo um fluir de acontecimentos surge ao nosso favor.
      Como resultado da atitude, seguem todas as formas imprevistas de coincidências, encontros e ajuda, que nenhum ser humano jamais poderia ter sonhado encontrar.
      Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhar, você pode começar. A coragem contém em si mesma, o poder, o gênio e a magia." (Goethe).
      Bela viagem minha amiga, só Luz em seu caminho!!! Abração.

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